É interessante como, no Brasil, áreas que ganham interesse e volume comercial, tendem a viver o que chamo de “barriga negativa” de qualidade de entrega, um “momento de vale”, de queda nos padrões de entrega finais. Vi isso acontecer na área de tecnologia entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. Um pouco antes nas áreas de atendimento ao cliente. Na primeira década deste século, na área de franquias, entre outras. O que presenciei nestas áreas foi a entrada de aventureiros que tentam (e conseguem) surfar na onda da área mais em evidência no momento, e isso acontece há alguns anos na área de energia solar.

Como identificar o que eu chamo de aventureiro? Normalmente é um player que não consegue demonstrar o nível necessário de conhecimento e/ou de entrega. Um profissional pode ter todo o conhecimento e preparo para entrar e se movimentar no mercado. Pode ter parte do conhecimento e estar cercado de profissionais que complementem o necessário para que a empresa – que, no final, é o resultado do conjunto de conhecimentos de seus integrantes -, comprove sua capacidade de entrega.

No solar, uma atividade que baseia-se em engenharia, capacidade de entrega precisa ser mensurável. Se possível, com demonstrações teóricas e de projeto sólido, acompanhadas de histórico de entrega e de um time que se apresente de forma sólida, segura. Mas, como citei anteriormente, em áreas em evidência, competitividade não é sinônimo de capacidade de entrega com qualidade. Mas existem formas de atestar isso e evitar dores de cabeça.

Por ter um caráter tão subjetivo, desde o final da década de 80, existe a tentativa constante de “objetivar” a qualidade, com a criação de padrões, refletidos em normas, como a ABNT NBR ISO 9001:2015 – Sistemas de gestão da qualidade e várias outras normas ABNT e IEC que buscam trazer para cada atividade referências que possam definir o padrão a ser perseguido como qualidade de entrega. No solar temos normas importantes como a ABNT NBR 16690:2019 – Instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos e a ABNT NBR 5410:2008 – Instalações elétricas de baixa tensão (atualmente em início de revisão técnica). O tema dos carros elétricos, mais recente, já tem uma norma que orienta sobre seu carregamento, a ABNT NBR 17019:2022 – Alimentação de carros elétricos. O tempo todo temos novas normas que buscam trazer objetividade para um serviço a ser entregue.

No solar, não faltam evidências nas redes sobre boas práticas não seguidas por empresas que falham no básico. Instaladores que sobem grandes alturas sem o devido uso dos equipamentos de proteção individual. Sistemas solares instalados fora dos parâmetros dos fabricantes dos componentes, sem uso dos componentes corretos para o tipo de cobertura onde os painéis serão acondicionados. Inversores instalados em locais inadequados. Painéis solares com espaçamento fora dos padrões, sem aterramento. Enfim, os exemplos são muitos.

Já participamos em muitos projetos de manutenção corretiva de sistemas solares, em usinas de solo e em telhados. Acreditem: a correção sai mais caro em hora-homem do que a instalação em si. Por isso, sugerimos o básico: não basta só a empresa integradora ter um site e algumas fotos de instalação. Não basta ter um preço competitivo, porque você está adquirindo um equipamento com previsão de geração de 25 anos, que pode ser estendido, se bem mantido, por mais de 30 anos, na cobertura de sua casa, de sua empresa. Investimento que você pode estar direcionando para gerar renda com venda de energia, que influenciará no futuro de sua família.

Fazer a aquisição de um sistema solar fotovoltaico somente avaliação a relação preço e tempo de retorno do investimento não é suficiente. Informe-se e faça perguntas às empresas postulantes ao seu investimento. Valorize empresas que podem não ter o melhor custo-benefício, mas trazem para o seu projeto a segurança que ele precisa ter. Faça dos próximos 25-30 anos de seu sistema solar um período proveitoso, de economia e de tranquilidade real.

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